Mil palavras... Um sentimento...
 
Memórias de um Lençol

Memórias de um Lençol

www.cartasparajulieta.pt
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Puxo um pouco mais o lençol… deixando a descoberto a textura solitária do teu lado da cama.

Puxo a ponta do lençol para tapar o meu peito frio. Cobre-me o corpo mas não cobre o vazio da vida sem ti. Não tapa a tua recordação, a falta da tua presença. Essa tal que anda sempre de braço dado comigo, que acompanha os meus movimentos, o meu respirar. Que me beija o rosto quando o viro de lado, que me segura a mão quando atravesso a rua, que entrelaça o seu olhar no meu quando silenciosamente me confessa paixão. Não há recordações más… mesmo quando por muito duras e desnecessárias que fossem as palavras que atiramos um ao outro, elas não nos separavam, não tinham esse poder. Como poderiam ser essas recordações assim tão más, quando estávamos juntos na discussão? Juntos no desentendimento? Juntos no planeamento discordante do nosso futuro? Juntos… na vida, na felicidade, no amor, na cama… sempre… juntos! Puxo um pouco mais o lençol, o qual obedece sem qualquer resistência, deixando a descoberto a textura solitária do teu lado da cama. Estico o braço e desenho com as pontas dos dedos os teus contornos, exatamente nos lugares onde eles repousavam, onde a cada acordar se tornavam responsáveis por toda a ondulação que este lençol já conheceu. Onde a cada acordar de um beijo se revelavam carentes de prazer, e se entregavam de alma à vontade decidida do seu mestre com um tímido suspiro. “Não pares…” pedias tu. A cada maré cada vez mais curta, a cada onda cada vez mais enrolada, encontrávamos o nosso destino num mar de prazer. Na volta à calmaria, o teu riso fazia de mim mais homem, enquanto o aconchego do lençol repunha todas as expectativas de um recomeço. Este mesmo lençol que agora é apenas… um lençol.

 

Romeu ©

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