Mil palavras... Um sentimento...
 
Um dia deito tudo fora…

Um dia deito tudo fora…

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“Um dia arrumo”, “Um dia deito fora…”, “Um dia pode fazer falta…” , “Um dia…”

Olá, boa noite. Hora de levar o lixo. Incrível a quantidade de coisas que acumulamos dentro de casa com o passar do tempo. Pensamos: “Um dia arrumo”, “Um dia deito fora…”, “Um dia pode fazer falta…” , “Um dia…”… hoje foi o dia. Um acordar ensolarado que já se pôs, mas os trabalhos continuam. Na viagem para o encontro com o ecoponto, a minha mente tenta recordar os conteúdos do saco e antecipar a sua classificação. Deixa ver…. amor não correspondido… amarelo. Sim, definitivamente é amarelo. Traição…. tenho traição no saco? Uma. Bolas, já quase nem me lembrava. Será que ela já esqueceu? Isto não deveria ser reciclado, deveria ser incinerado para mais ninguém repetir essa tentação. Recipiente dos resíduos com ela. Feito! Discussões por nada… uma, duas, …. dez… tantas? Amarelo. Sexo de reconciliação? Tão pouco para tantas discussões? Ok, seja… azul. Os meus filhos sempre me dizem que tudo o que pomos no azul e no verde irá nascer de novo. O que confiamos ao amarelo irá renascer sob outra forma. Que mais temos para o azul? Todos os momentos que passei com a Mãe deles? Como se pode meter isto num saco de lixo? Como se pode não meter isto num saco de lixo? Já foram… por muito que os guarde lá em casa com o sentimento que um dia vão fazer falta, eles nunca deixaram de fazer falta, simplesmente porque não estão lá. Não estão pela casa toda, não estão em tudo o que faço, o que vejo, o que discuto, o que sou. Era o lugar deles. Verde. Que nasçam de novo.
No virar de costas, dou de caras com o meu triste semblante refletido no vidro colorido da pastelaria. Tudo o que vejo agora é um recipiente vazio. Amarelo!

Romeu ©

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