Hum… acho que é… framboesa?
A dor nas costas é brutal! Sinto o calor do asfalto nas pontas dos dedos, como se do resto do corpo estivessem desligados. Ouço vozes, mas lá muito ao fundo. Palavras emergentes, desprendidas de significado, perdendo-se no eco da dor. Sinto um toque de lábios que me sopra violentamente a vida, acompanhado de uma ritmada sequência de desespero pelo batimento do meu coração. Hum… acho que é… framboesa? Mordo os lábios à procura de confirmação. Certo! Com aroma de framboesa voltei à vida. Abro os olhos e entre o rosado esborratado da fruta consigo ler: “Estás bem?” – Agora estou! Os dedos conectaram-se e a dor esfriou com o aquecer do corpo. Mas quero mais framboesa. Levanto a mão para ti, e nem te importas quando sentes a textura rude de uma mão atropelada a desfilar por entre o teu cabelo, tentando deixar à vista o caminho para o pote das framboesas.
– Quem és tu? O meu anjo da guarda?
– Não. Apenas o demónio que te atropelou. Desculpa!
– Quero… framboesa…
E as palavras passaram a submergentes… a navegar no éter sem direção definida, sem saber distinguir o que vem primeiro: se o eco… se o eco. Brindas-me novamente com a melhor framboesa do teu pote, mas desta vez não consigo sentir o sabor… nem o calor… nem a dor.
Romeu ©