Mil palavras... Um sentimento...
 
Sete e meia

Sete e meia

http://www.cartasparajulieta.pt
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Sete e meia. Mais cinco minutos, peço!

Sete e meia. No meio do nevoeiro, o som do rebocador que me vem tirar do limbo emerge de uma qualquer mesa de cabeceira. Estico o braço e primo o botão grande. Mais cinco minutos, peço. E mando-o circundar-me silenciosamente para poder aproveitar os últimos metros do embalo nocturno. O meu corpo dormente enrola-se, enquanto a minha mente acelera e tricota um agasalho para o dia que aí vem. Sim, porque o meu sol há muito que não ilumina estas paragens, há muito que não aquece, e esquece os meus dias. A cada volta do rebocador redobro os cinco minutos. O agasalho não está pronto. Há muito por onde tricotar. Há muito caminho outrora programado e nunca trilhado, muita possibilidade fantástica ao nosso alcance, mesmo aqui, à saída do limbo. É o sítio onde se pode ver o futuro e mudar o passado. É o sítio onde não há presente. Onde somos tudo o que gostaríamos de ser. Onde o egoísmo dança com o altruísmo numa sincronia perfeita. Onde ali ao cantinho temos o cientista maluco a desenhar os cálculos que sustentam a teoria de que em apenas cinco minutos, as tuas palavras passadas ecoam no futuro e jamais serão esquecidas. Vejo-as passar por mim e ouço-as no futuro tal e qual me lembro delas… “Amo-te…”…  Pergunto à minha mente se as bordou no agasalho, se já posso agarrar a corda do rebocador e seguir em direcção ao presente. O rebocador recusa-se a mais uma manobra de navegação circundante silenciosa, e lança a corda. Não tem combustível para mais uma volta. É agora… ou limbo! A tracção da corda deixa-me a descoberto, com os lençóis rebatidos. Abro os olhos. Procuro o agasalho para o meu dia. Não está cá. Ficou no passado. Como foi possível? Amanhã volto lá para tricotar outro, mas hoje vou sentir frio!

Romeu ©

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